Páginas

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Rock in Rio opõe estilos e gerações musicais

Desde a primeira edição, em 1985, o Rock in Rio teve programação demarcada pela diversidade de estilos. Em 2011, reuniu de Steve Wonder, Shakira, Lenny Kravitz à banda Guns N'Roses (FOTO ANDRE DURAO E VANDERLEI ALMEIDA/AFP)

Encerrado no último o Rock in Rio se despediu de uma imensa legião de fãs, confirmando uma próxima edição para 2013. Entre as principais críticas, segurança e mobilidade são colocadas como principal desafio para a organização

A discussão sobre o quanto teve de rock e de pop nesta edição do festival escondeu uma outra questão importante no Rock in Rio 2011. Mais do que estilos musicais, o evento colocou em oposição gerações diferentes.

Desde o Rock in Rio inicial, em 1985, a diversidade musical foi bandeira clara a ser defendida. Basta lembrar o primeiro line-up, que colocou lado a lado AC/DC, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Erasmo Carlos, James Taylor e Elba Ramalho.

Mais do que ser pop ou rock, bom ou ruim, a escalação de artistas como Stevie Wonder e Ke$ha numa mesma noite traz o confronto de duas maneiras de se consumir música pop.

Ele, um gênio musical recordista do prêmio Grammy e regravado por centenas de astros pop. Representante de uma época em que a música era quase sacra, espelho de mudanças comportamentais profundas e item de consumo durável, traduzido em preciosas discotecas caseiras.

Ela, uma garota que não tem talento para criar canções que mudem a vida das pessoas e se tornem itens de adoração perene, mas muito esperta para captar tendências e formar uma persona pop interessante. Faz música para consumo urgente, som com prazo de validade curto. Se não impacta musicalmente, o visual agressivo e a “atitude” de sexo, uísque e rock and roll ajuda.

Plateia díspar

Dentro de cada proposta, o mestre e a mocinha podem fazer shows que satisfaçam a seus fãs tão díspares. Foi o que aconteceu na última quarta-feira no Rock in Rio. O problema é reunir esses dois tipos de fãs numa mesma plateia. 
Essa diversidade, que está praticamente no código genético do festival, pode ser tão louvável quanto difícil de administrar.

Filas menores para comprar comida, um esquema mais eficiente de ônibus ligando os bairros cariocas à sede do evento e mais policiamento são medidas que já deixaram melhor os últimos dias do festival.

Mas a maneira de escalar as bandas para causar menos estranheza a um ou outro artista é uma pergunta que ainda espera resposta.

Neste Rock in Rio, o dia que mais chegou perto dessa unificação foi o primeiro domingo (25), reconhecido como o “dia do metal”. Apenas o grupo brasileiro Glória foi vaiado, mas nesse caso trata-se de um problema de qualidade, não de adequação ao gênero pesado.

Com o heavy metal fica mais tranquilo fazer essa divisão, por ser um gênero musical com regras claras e até certo ponto rígidas --cabelo comprido, camiseta preta, vocal gritado, guitarristas velozes, volume bem alto.

Quando se tenta colocar juntos Coldplay, Maroon 5 e Jota Quest, o rótulo de pop rock mostra uma elasticidade que permite o cruzamento de fãs bem diferentes na mesma plateia.

Um Rock in Rio 2013 mais seguro e de fácil acesso é obrigação dos organizadores. Mas fazê-lo buscando um público mais afinado a cada noite é ter um tremendo abacaxi nas mãos.
Thales de Menezes, da Folhapress

Nenhum comentário: